Nesta discussão do que é mais importante, lógica ou criatividade, eu já disse algumas vezes que a lógica virou commoditie. E isso, se deve, em parte, a uma área da inteligência artificial que nasceu na época da indústria 3.0 e que cresce exponencialmente hoje, em tempos de indústria 4.0. Estou falando da robótica. Fica cada vez mais difícil competir com o robô, em algumas atividades. Como, então venceremos, esta suposta batalha com os bots?
Bots
Pra começo de conversa, não se trata de disputa. Nós, humanos, continuamos humanos e eles, robôs. Em outras palavras, a ideia é conviver bem com eles. Eles, os bots, desenvolvem atividades, que convenhamos, fazem melhor que a gente. Imagine então a seguinte situação. Você é contratado para trabalhar numa fazenda. O seu chefe informa que os porcos não terão mais brincos de identificação. Ao invés disso, você será o responsável por memorizar o rosto de cada animal e, com isso, identificá-lo. Será mesmo que você vai conseguir? Eu não conseguiria, mas softwares de inteligência artificial, já em funcionamento, conseguem.
The software is eating the world
Mas, Döll, e agora? Como disse Andreessen Horowitz, “the software is eating the world”, ou o software está comendo o mundo. O que eu faço agora? Primeiramente, sem entrar na discussão social do desemprego, que considero pertinente, porém, não o foco desta análise, e na tentativa reducionista de abordar a questão, a resposta aparentemente é simples. Faça, portanto, o que o robô não faz ou tem dificuldade de fazer.
Robos têm limitações
Softwares têm limitações e não são poucas, mesmo em atividades rotineiras e burocráticas, onde espera-se dele níveis extraordinários de excelência. Na minha casa, eu tenho um irobot, um robô aspirador. Como um early adopter e entusiasta da tecnologia comprei ele já faz um tempinho, ou seja, são dos primeiros modelos que chegaram ao Brasil. Um dia desses, uma vizinha me perguntou se ele funcionava bem. Respondi que sim. Apenas, no entanto, recomendei que ligasse o robô pra aspirar e fosse dar uma volta. Caso contrário, se estressaria com a lógica dele ao perceber que o robô acabou de passar reto ignorando a sujeira que estava ao seu lado.
Sintaxe ou semântica
Quem estuda programação de computadores ou é um linguista sabe a diferença entre sintaxe e semântica. Em poucas palavras, a sintaxe é a sequência de comandos que eu escrevo para a máquina fazer o que eu espero que ela faça. A semântica, entretanto, é a interpretação, o entendimento e o impacto daquela sequência de comandos. O mundo exige de nós hoje mais semântica do que sintática. Bots, todavia, são sintáticos. Não podemos, portanto, nos igualar aos robôs. Precisamos ser semânticos.
Pedagogia e Tecnologia
É isso, por exemplo, que promete Montessori, a metodologia educacional proposta pela Médica Maria Montessori ou ainda a pedagogia Waldorf, proposta pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. A propósito, Zuckerberg, do Facebook, Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google, além de Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo e criador da Amazon, tiveram sua educação baseada em Montessori. E, perceba, citei caras que são de tecnologia, dos quais se espera mais sintaxe do que semântica.
A maior vantagem competitiva do ser humano é ser humano
Esta mudança na configuração mental deve começar cedo, na infância. Educadores e pais têm, por conseguinte, um papel importante. O mundo é digital. A gente ouve isso, com frequência. E é verdade. Pra se sobressair num mundo digital, porém, você precisa ser analógico, sem deixar de trabalhar com o digital. Robôs não entendem de pessoas, robôs não conseguem liderar pessoas, robôs não têm criatividade, não são originais, muito menos têm empatia. Em resumo, tem como conviver bem com robôs? Tem sim. Como disse Murilo Gun, a maior vantagem competitiva do ser humano é justamente ser humano.